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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Imperdoaveis

Por do sol e arvoreNa coluna “A outra face”, mencionei aquela que acredito ser a proposta mais absurda de Jesus: dar a outra face ao agressor. A segunda proposta mais absurda, na minha opinião, é o perdão. Na verdade, o perdão é irmão íntimo de dar a outra face; a diferença é que ele não é fruto de uma relação exclusiva com “inimigos”. O perdão, quando o ofendido assume o prejuízo causado pelo ofensor, é o único caminho da restauração plena. Tratando do tema de perdão, sempre me lembro de dois filmes que me marcaram e que demonstram modos opostos de lidar com os pecados dos outros e seus efeitos sobre nós. Trata-se de “Os Imperdoáveis” (onde ninguém perdoa ninguém) e “Forrest Gump” (o cara que perdoa todos o tempo inteiro).
Os Imperdoáveis foi o filme vencedor do Oscar de 1992, escrito e dirigido por Clint Eastwood, estrelado por ele mesmo mais Gene Hackman, Morgan Freeman e Richard Harris (talvez o melhor elenco do cinema mundial). O filme é maravilhoso, como tudo o que o Clintão produz. O título já demonstra uma profunda relação de culpa que permeia toda a história: as prostitutas agredidas não perdoam seus agressores; o xerife não perdoa quem se atravessa no seu caminho; o próprio personagem de Clint não perdoa a si mesmo pelo seu passado de assassino, embora tenha se redimido – o que o leva de volta à matança. O filme inteiro é profundamente deprimente exatamente por isso: não há saída se não houver perdão; e ele jamais acontece.
Já Forrest Gump – o contador de histórias – venceu o Oscar de 1995; foi dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Tom Hanks (a melhor interpretação da vida dele). A personagem é um retardado mental que é constantemente enganado por todo mundo, a quem ele sempre responde com um voto de confiança. As situações são hilárias e inverossímeis (como ele ser campeão mundial de tênis de mesa, herói da guerra do Vietnam, maior produtor de camarão do mundo), mas ao mesmo tempo ele nos soa profundamente humano e real. Seu desapego das coisas e apego às pessoas nos leva às lágrimas, como quando perdoa o capitão que sempre o tripudiou (e ainda o ajuda a recuperar-se), recebe a moça que o abandonou, ignora cada ofensa que a sociedade inteira lhe faz. Perdoa sempre. Fica-se com a sensação de que somente um retardado mental poderia amar e perdoar daquela maneira. O que infelizmente parece ser verdade na maioria das vezes.
Minha sugestão é de que você reveja estes filmes pensando na proposta de Jesus em perdoar. São dois filmes muito bons apresentando as maneiras opostas como as pessoas lidam com a questão. Quando ninguém desculpa ninguém, todos são imperdoáveis. Já o cara que perdoa todos o tempo inteiro é inocentemente feliz.
Crônica escrita por André Daniel Reinke

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